Guia detalhado de Precure (2020)

Atrás apenas de gigantes anciões como Dragon Ball e One Piece, Precure é atualmente uma das franquias mais bem sucedidas da Toei Animation, cultivando uma enorme base de fãs no Japão desde sua primeira temporada que se iniciou em 2004. Infelizmente, a série enfrenta enormes dificuldades quanto a sua popularidade no ocidente, seja por falta de pessoas falando sobre, ou por sua assustadora aura de uma série enorme com (no momento em que este post está sendo feito) dezessete temporadas.

O grande segredo da franquia de garotinhas batendo em monstros gigantes é que tirando raras exceções, cada temporada possui seu próprio conjunto de protagonistas, vilões, temática e plot. Permitindo assim que todo ano, novos expectadores possam estar começando na temporada mais recente sem precisar se preocupar em correr atrás do que perdeu no Precure anterior e no processo, permitindo a Toei continuar criando coisas pra sua marca original o quanto ela render.

Com tantas temporadas assim, é importante estabelecer o mais rápido possível se você quer ou não assistir tudo o que a série tem a oferecer. Caso você esteja interessado em ter apenas um gostinho da coisa, não existe uma resposta correta de por onde começar, mas cada Precure possui diferentes prós e contras que possa pessoalmente te atrair mais do que outros. (entraremos em detalhes mais tarde tomando todo o cuidado do mundo para não te spoilar, então fique tranquilo!) Caso você queira assistir tudo, já existe um caminho bem mais claro, a ordem de lançamento.

A ordem de lançamento

Por que você assistiria tudo pela ordem? Simples, isso não só facilitaria muito a sua vida na hora de constantemente escolher aquilo que vai assistir depois, como também abriria as portas para os ótimos filmes de crossover muito mais cedo. Por um tempo, Precure passou a receber um tratamento de tokusatsu bem curioso, os chamados “All Stars”, que consistem em filmes que reúnem personagens de todas as temporadas anteriores com a mais recente para lutar com um grande inimigo. 

Algumas das melhores coisas da franquia são os All Stars específicos que você realmente não vai conseguir ter o contexto necessário pra aproveitamento total sem ter assistido o anime de todo mundo que aparece, o que faz se dedicar a ver tudo te pagar bem nessas horas. Sobre a ordem em que você deverá assistir, vamos dividir entre temporadas e seus filmes (lembrando que a partir de Fresh Precure, o anime começa a fazer propaganda dos filmes na abertura, não necessitando mais que eu dia a partir de qual episódio você pode assistir):

  1. Futari wa Precure (49 episódios)
    • Essa temporada não possui filmes.
  2. Futari wa Precure: Max Heart (47 episódios)
    • Futari wa Precure: Max Heart Movie 1 (Após ep.10)
    • Futari wa Precure: Max Heart Movie 2 – Yukizora no Tomodachi (Após ep.40)
  3. Futari wa Precure: Splash Star (49 episódios)
    • Futari wa Precure: Splash Star Movie – Tick Tack Kiki Ippatsu! (Após ep.42)
  4. Yes! Precure 5 (49 episódios)
    • Yes! Precure 5 Movie: Kagami no Kuni no Miracle Daibouken! (Após ep.38)
  5. Yes! Precure 5 GoGo! (48 episódios)
    • Yes! Precure 5 GoGo! Movie: Okashi no Kuni no Happy Birthday (Após ep.37)
  6. Fresh Precure! (50 episódios)
    • Precure All Stars Movie DX: Minna Tomodachi – Kiseki no Zenin Daishuugou!
    • Fresh Precure! Movie: Omocha no Kuni wa Himitsu ga Ippai!?
  7. Heartcatch Precure! (49 episódios)
    • Precure All Stars Movie DX2: Kibou no Hikari – Rainbow Jewel wo Mamore!
    • Heartcatch Precure! Movie: Hana no Miyako de Fashion Show… Desu ka!?
  8. Suite Precure (48 episódios)
    • Precure All Stars Movie DX3: Mirai ni Todoke! Sekai wo Tsunagu Niji-iro no Hana
    • Suite Precure Movie: Torimodose! Kokoro ga Tsunaku Kiseki no Melody
  9. Smile Precure! (48 episódios)
    • Precure All Stars New Stage: Mirai no Tomodachi
    • Smile Precure! Movie: Ehon no Naka wa Minna Chiguhagu!
  10. Dokidoki! Precure (49 episódios)
    • Precure All Stars New Stage 2: Kokoro no Tomodachi
    • Dokidoki! Precure Eiga: Mana Kekkon!!? Mirai ni Tsunagu Kibou no Dress
  11. HappinessCharge Precure! (49 episódios)
    • Precure All Stars New Stage 3: Eien no Tomodachi
    • HappinessCharge Precure! Movie: Ningyou no Kuni no Ballerina
  12. Go! Princess Precure (50 episódios)
    • Precure All Stars Haru no Carnival
    • Go! Princess Precure Movie: Go! Go!! Gouka 3-bon Date!!!
  13. Mahoutsukai Precure! (50 episódios)
    • Precure All Stars Minna de Utau Kiseki no Mahou!
    • Mahou Tsukai Precure! The Movie: Kiseki no Henshin! Cure Mofurun!
  14. Kirakira Precure a la Mode (49 episódios)
    • Precure Dream Stars!
    • Kirakira Precure a la Mode: Paris to! Omoide no Mille-Feuille!
  15. Hugtto! Precure (49 episódios)
    • Precure Super Stars!
    • Hugtto! Precure Futari wa Precure All Stars Memories
  16. Star Twinkle Precure (49 episódios)
    • Precure Miracle Universe
    • Star Twinkle Precure: Hoshi no Uta ni Omoi wo Komete
  17. Healin’ Good Precure (Em andamento)
    • Precure Miracle Leap: Minna to no Fushigi na Ichinichi

Uma listinha bem robusta, huh? Dependendo de quantos anos no futuro você esteja, eu nem saberia te dizer o quão maior ela estará por aí, mas ei, não deixe isso te abalar! Se você gostar de uma temporada, significa que terá bons animes garantidos por um bom tempo. Claro, para assistir tudo precisaria ter uma grande determinação, e por isso nós vamos passar por todo o conteúdo existente até agora para garantir que aqueles que não têm todo o tempo do mundo ou que ainda estão assustados demais para pular numa franquia que não tem certeza que vão gostar possam assistir algumas coisinhas!

Futari wa Precure + Max Heart

Onde tudo começou! Provavelmente a temporada com a mais forte iconografia da série, se atentando a vários pequenos detalhes que vão melhorar muito a sua experiência se você for o tipo de pessoa que dá bastante valor pra boas composições de cenas. Nagisa e Honoka são protagonistas incríveis que vão apresentar grande perigo para seu atual top de personagens favoritos. A relação entre as duas garante que o anime seja divertido do começo ao fim, mesmo que você tenha pequenos problemas ao longo do caminho.

Quando o assunto são vilões, essa aqui é uma variação entre alguns erros e acertos, um misto bem complicado de uns muito legais e outros extremamente esquecíveis. Acaba que os vilões mais fraquinhos são carregados por uma ótima direção de ação e alguns confrontos bacanas com as garotas principais, isso sem contar quando rola de vir um que nem personalidade tem, mas no fim do dia você acaba saindo no positivo, pois todas as lutas do personagem foram fantásticas.

Como o primeiro Precure, Futari wa pode parecer um pouco básico às vezes, já que eles estão tendo que criar uma fórmula que possivelmente sustentaria algo bem maior no futuro. Para nossa sorte, esse ar de experimento se torna algo muito mais interessante quando descobrimos que caras como Daisuke Nishio e Naotoshi Shida, junto com uma porção bem considerável do resto da staff de Dragon Ball, estavam se juntando para criar um anime original de garotas mágicas e… Bem, se você adora Dragon Ball, é absolutamente impagável pegar todas as semelhanças e se assustar com o quão bem o estilo dos caras consegue casar com o gênero.

Na produção, Futari wa Precure é estranhamente bem feito para o padrão de animes do inicio da era digital, contando com diversas cenas muito bem animadas e como era de se esperar, ótima direção que quando junta com a trilha sonora divina do Naoki Sato, facilmente te faz parar de se incomodar com o fato de que você está assistindo algo de tantos anos atrás. Mas vale lembrar que no topo de tudo isso, a temporada possuí um traço bem inconsistente, que fica ainda mais engraçado quando chegamos no Max Heart.

Futari wa Precure: Max Heart é uma das únicas temporadas que são uma continuação direta de uma anterior, usando os mesmos personagens e setting. Caso você tenha tido a sua dose com a primeira, deixar de assistir essa não vai matar, mas se você gostou, é quase que obrigatório ver!

Dessa vez, as cenas chaves estão extremamente mais energéticas, os novos vilões são mais legais e lutas ótimas estão ainda mais presentes, porém problemas como traço ultra inconsistente, várias repetições de cena (além das habituais cenas de especial e transformação) e uma nova protagonista bem chatinha também estão no pacote. Eu tive sentimentos bem mistos enquanto consumia, mas num geral acabei adorando pela parte positiva se destacar bem e levar para um final bastante satisfatório. Vale dizer que tem quem prefira essa temporada ao Futari wa.

Futari wa Precure é uma boa porta de entrada para a série?

A resposta é sim! Pode não ser o ideal para pessoas com problemas com animes mais velhos ou que não tenham sentido muito apelo com a descrição, mas para quem valoriza bastante a staff presente e consegue tirar diversão ao analisar esse tipo de detalhe individual, não existe outra opção que vá fazer jus a uma experiência tão rica.

Futari wa Precure: Splash Star

Apesar do nome, Futari wa Precure: Splash Star não possui relações com o Futari wa ou Max Heart. Vindo um ano depois de seu antecessor, o reset após noventa e seis episódios e novas personagens com designs que lembram tanto as protagonistas antigas que chega a ser desconfortável, Splash Star passa uma visão não muito firme para quem olha de relance, mas não se deixe enganar! Essa é facilmente uma das melhores temporadas que a série tem a te oferecer!

Se as palavras chaves anteriormente eram “ótimas lutas”, dessa vez a coisa muda totalmente de figura com o anime tomando um caminho muito mais slice of life com medo das reclamações dos pais sobre a crescente violência que Precure vinha apresentando ao longo dos anos. O que mesmo fazendo certa falta, permite ao anime focar ainda mais nos personagens e desenvolver todo mundo em níveis mais profundos, onde as protagonistas são muito amáveis, todos os vilões são bem carismáticos, engraçados e marcantes, e no topo de tudo, a aura do anime consegue ser tão boa que você não pode evitar ficar sorrindo igual um idiota enquanto assiste.

Claro que mesmo com as reclamações dos pais e essa temporada ativamente evitar gastar seus melhores animadores nas cenas de ação da primeira metade, a partir da segunda metade vários bons confrontos serão garantidos para fechar o anime com chave de ouro e gerar a melhor luta final da série.

Splash Star é uma boa porta de entrada para a série?

Com certeza sim! Não importa se você é do tipo que presta muita atenção na staff e no trabalho individual de cada um ou se você simplesmente quer um anime muito divertido para assistir, essa temporada tem um copo cheio para todo mundo, se tornando uma escolha segura e bem sólida para quem quer consumir algo de Precure, principalmente para quem gosta de animes slice of life com protagonistas especialmente adoráveis.

Yes! Precure 5 + GoGo

A primeira temporada a começar com cinco Cures ao invés de duas e provavelmente a temporada mais próxima do que estamos acostumados a ver em animes shoujos tradicionais. Problemas de personagens fora dos moldes são bem comuns e Yes sofre com a falta de bons vilões em grande quantidade, porém entre os dois que são bons está um dos melhores vilões da franquia inteira, então essas coisas meio que acabam se balanceando.

Dessa vez, o público um pouco mais velho que assistia os animes antigos acabaram levando um pouco da atenção por parte dos roteiristas, fazendo que o Yes! Precure 5 tenha algumas personagens principais bem mais velhas do que estávamos acostumados até agora, e de brinde criando tematicamente uma dinâmica bem interessante entre garotas com um futuro brilhante contra uma literal organização maligna com vilões trabalhadores frustrados que acabam se rendendo a um ambiente de trabalho extremamente predatório que só destrói eles de dentro para fora, e para a nossa surpresa… Até que o anime consegue falar algumas coisas bem legais sobre o assunto sem precisar ser ultra óbvio como temporadas mais recentes precisaram ser.

Aparentemente as coisas deram uma aquietada com os pais durante o Splash Star, então tanto o Yes quanto o GoGo contam novamente com uma ótima direção de ação banhadas de cenas muito bem animadas que com certeza ficarão na sua cabeça após assistir.

Voltando nas personagens, Yes! Precure 5 possui um ótimo elenco principal! É bem impressionante como todas as cinco garotas são bem divertidas e possuem personalidades gostáveis, além de apresentar um nível de interação muito bom que não era realmente possível com um cast menor. Outro efeito das personagens um pouco mais velhas foi o anime finalmente ter coragem de incluir uns garotos bonitões para acompanhar as protagonistas e até mesmo gerar um clima legal entre eles.

Caso se empolgue com o casalzinho oficial, saiba que os filmes do Yes e GoGo são muito bons e um deles possui ótimos momentos pra ele, então esse extra vai estar sempre a seu dispor se escolher essa rota.

Agora vamos falar um pouco da segunda e última continuação direta em Precure, o Yes! GoGo. Visualmente falando, ele é o Yes só que melhor em tudo — tipo, sério. Cenas chaves refeitas, melhor animação (considerando que a original já era boa), melhores designs… É algo realmente bonito de se ver, apesar do traço ainda ser bem inconsistente. A trilha sonora não fica muito atrás, sendo o último trabalho do Naoki Sato na série, deixando uma ótima marca que até o momento nunca foi superada.

Eu estaria mentindo se eu dissesse que essa é uma continuação perfeita, já que nenhum dos novos vilões são bons, uma das novas personagens principais é bem irritante e certos momentos acabam parecendo meio arrastados, mas se você viu o Yes e curtiu, não existe motivos para não assistir o GoGo.

Yes! Precure 5 é uma boa porta de entrada para a série?

Totalmente sim! É uma temporada especialmente ótima para quem já chegou a assistir outros mahou shoujos como um Sailor Moon ou Tokyo Mew Mew da vida. Pessoas que estão acostumadas e gostam de alguns elementos mais clichês de shoujos um pouco puxados pros tradicionais também devem se dar muito bem com a série iniciando por aqui, mas caso não tenha parecido com algo exatamente no seu perfil, não se preocupe! Ainda temos muitas opções pela frente.

Fresh Precure!

Em uma tentativa de refrescar a série e colocar ela no interesse do pessoal novamente, alguém dentro da Toei percebeu que continuações diretas machucavam a série mais do que ajudavam a longo termo, não só dando um novo reset, como alterando radicalmente as posições dentro da staff e chamando várias pessoas novas para darem mais vida ao projeto. O resultado foi impressionante!

Vamos tirar a parte ruim do caminho, já que ela é bem insignificante no grande retrato de Fresh Precure. A trilha sonora é boa, mas não é Naoki Sato, infelizmente. Mesmo esse sendo um de meus trabalhos favoritos do Yasuharu Takanashi, ele simplesmente não consegue entregar o mesmo nível de hype com suas trilhas sonoras, então acaba soando bem estranho durante os primeiros episódios. O lado positivo é que isso não vai ser relevante caso seja a sua primeira temporada de Precure, já que não terá como comparar com as tracks antigas.

Além de a trilha sonora ter decaído um pouco na troca de staffers, os primeiros episódios do anime possuem uns errinhos visuais extremamente amadores. Alguns deles conseguem passar despercebido, mas outros são ridículos demais, como personagens animados na layer errada (se movendo como estivessem atrás de um objeto, mas ao invés disso são mostrados na frente). Isso não dura muito e o resto do anime é tão bom que fica fácil de perdoar, mas se você é sensível a essas coisas, prepare o coração durante essa parte inicial.

Como eu já mencionei de resto o anime consegue ser tão sólido e consistente quanto um Splash Star da vida. Os personagens são tão impagáveis que você acabará gostando das protagonistas, dos vilões, dos amigos aleatórios que aparecem de vez em nunca, do tiozinho que vende donuts e até mesmo dos mascotes que de algum jeito também dão um show à parte! Se isso servir de alguma prova, a Love é uma protagonista tão amável que até hoje ela permanece no meu top um de personagens favoritos.

Um ponto especial de Fresh é sua comédia acima da média. O timing cômico da franquia nunca foi ruim, mas aqui você verá as coisas indo para um novo nível, isso se mostra especialmente real quando Rie Matsumoto pega a direção ou storyboard de um episódio, gerando situações extremamente caóticas e divertidas que acima de tudo são banhadas de estilo imediatamente reconhecível pra qualquer um que já viu algum trabalho dela, como Kekkai Sensen ou Kyousou Giga.

Fresh Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Eu realmente preciso responder? Sim! Sendo um favorito pessoal, Fresh Precure cumpriu sua missão de revitalizar a série e permitiu que tudo continuasse fluindo até onde estamos hoje. Os pontos negativos são bem ignoráveis e o anime é extremamente amigável com qualquer um que consiga consumir um anime com bastante comédia e um episódico legal.

Heartcatch Precure!

Chegamos a um dos favoritinhos dos fãs. O character design quase cartunesco de Yoshihiko Umakoshi não só criou um visual precioso para o anime, como também veio resolvendo um dos principais problemas que temporadas antigas tinham: “Os personagens complicados de desenhar durante cenas bem animadas”. Graças ao novo estilo, Heartcatch consegue elevar o nível de animação e a quantidade bruta delas para um valor ridículo, fazendo desse um dos Precure mais visualmente impressionantes que você pode assistir.

Se você faz parte daquelas pessoas cujo todo interesse na série vem de saber o quão longe a equipe de animadores consegue ir, essa temporada é a sua alma gêmea. Infelizmente na questão de músicas o compositor continua sendo o Yasuharu Takanashi, poucas músicas são notáveis e muitas das composições são bem memes, principalmente os rocks exagerados que são garantia de te fazer rir quando tocam.

Num geral Heartcatch é sim bem competente, tem protagonistas muito divertidas e dois vilões especialmente engraçados que já carregariam tudo nas costas. Uma das coisas que pode incomodar é como o anime gosta de gastar tempo com personagens que a gente sabe que nunca vão ser relevantes após o episódio deles terminar, fazendo com que no final do anime pareça que as protagonistas poderiam estar em um patamar muito maior se eles usassem esse tempo pro que importa.

Tendo isso em mente, eu não me incomodei muito com a falta de foco enquanto assistia pela primeira vez. Com essa sendo a sua primeira temporada de Precure, é perfeitamente possível que assim como eu, você assista e ache o uso de tempo do anime legal, e que só vá chegar a notar de verdade pensando em retrospectiva de como o anime poderia ser de ótimo pra ainda melhor quando tiver uma visão mais ampla da franquia, ao ver mais temporadas e como elas lidam com essa mesma coisa.

Um pequeno bônus, é que começando por aqui você terá acesso imediato ao filme solo da temporada, Hana no Miyako de Fashion Show… Desu ka!?, que, fora os crossovers, é facilmente um dos melhores filmes de toda a franquia.

Heartcatch Precure! é uma boa porta de entrada para a série?

Yup! Essa é provavelmente a temporada que a maioria dos fãs te recomendaria começar. No meu caso funcionou o suficiente para que eu esteja aqui gastando meu precioso tempo fazendo um guia tão gigante para vocês. Quem eu vejo evitar começar por este é quem tenha sentido um pouco de receio com a falta de foco ou realmente não tenha gostado do visual mais cartunesco da temporada, o que é perfeitamente entendível.

Suite Precure

Suite Precure parecia ser mais uma ótima temporada, que possuía duas protagonistas bem carismáticas, episódios iniciais que passavam muita confiança e tinha até a lendária dubladora Kotono Mitsuishi fazendo a voz da Hummy — isso é, até o Japão sofrer o terremoto e tsunami de março de 2011.

Aparentemente, em uma tentativa desesperada de animar as crianças japonesas depois do ocorrido, Suite teve sua ideia inicial remodelada, onde uma personagem com design chamativo baseado numa cor primária acabou como uma amiga aleatória das protagonistas que aparece de vez em quando, personagens totalmente sem graça tomaram os holofotes do nada, outros que já eram presentes passavam a mudar de personalidade sempre que eles precisavam e o plotzinho em si era bem ruim… o que eu quero dizer é, Suite Precure por um desastre natural acabou virando a primeira ovelha negra da família.

Suite Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Por mais doloroso que seja dizer, não. O único motivo que eu posso imaginar alguém sentindo a necessidade de começar na franquia por essa temporada é uma vontade suprema de ouvir a voz da Kotono sem realmente se importar com a qualidade da obra. No pior dos casos, as personagens são bem bonitinhas também, então isso poderia ser outro incentivo…?

Smile Precure!

O que aconteceria se eles pegassem a base de Yes! Precure 5, fundissem com um humor digno de Fresh Precure e fossem ainda além? A resposta para essa pergunta é Smile Precure! — sendo um ótimo híbrido de comédia imbecil e eventuais ótimas lutas, Smile automaticamente se faz uma seleção bem sólida para qualquer tipo de pessoa procurando um anime divertido.

As partes técnicas dessa vez são bem consistentes, o traço tende para um lado mais moe ao invés do habitual cool, o que já ajuda na escolha se você tende mais pra esse nicho. Quase todas as protagonistas são muito boas — no pior dos casos, todas são divertidas —, os vilões são igualmente ótimos e deixam bem a sua marca até o fim da temporada. Não só os personagens são bons, como as situações episódicas são umas mais criativas que as outras e até quando eles tentam refazer episódios do Yes, eles adicionam ótimos twists e de alguma forma conseguem até fazer melhor.

Mas não só de sorrisos é feita essa temporada: lembra quando mencionei o terremoto em Suite Precure? Como uma resposta para a nova necessidade de seus telespectadores, Smile possui uma temática bem pesada, que visa ajudar as crianças a lidar com as dolorosas perdas de seus lares e familiares.

Esses ótimos momentos de seriedade no anime assustaram tanto o pessoal por aqui, que a nossa versão literalmente corta todas essas cenas mais focadas nesses temas (você consegue encontra-la como Glitter Force na Netflix). Se o terremoto de 2011 pode ser considerado o que destruiu Suite, não seria de outro mundo dizer que é parte do que faz essa temporada tão especial e particularmente tocante.

Smile Precure! é uma boa porta de entrada para a série?

É sim! Animes um pouco mais infantis sempre serão um pouco assustadores para qualquer tipo de otaku moderno, afinal de contas, todos querem ser o cara legal que só assiste coisas adultas e complexas, o que acaba criando um cenário irônico onde animes mais infantis são aqueles que necessitam de maior maturidade para serem consumidos. 

Felizmente, Smile pode te ajudar com isso! Como ele está sempre cutucando temas mais sérios aqui e ali e ao mesmo tempo é legitimamente um anime amigável com crianças, essa é uma ótima escolha para te ajudar a quebrar preconceitos com esse tipo de conteúdo caso você ainda não o tenha feito. Para pessoas que também apreciam uma comédia de bom gosto, mas não foram com a cara do Fresh ou que simplesmente gravitam melhor em direção a uma estética mais fofa, Smile Precure é sim uma ótima primeira experiência!

Dokidoki! Precure

Após uma fórmula que evoluía aos poucos render diversos níveis de acertos e um erro horrível, Precure passa por um novo experimento, tendo Dokidoki! Precure como a primeira temporada da série a tentar sair um pouco do formato mais episódico. Não me entenda errado, ainda existe o padrão de inimigo da semana e todas essas coisas, mas ao invés do progresso ser dividido em poucos episódios chaves, todo episódio algo acontece para mover o plot um pouquinho.

O plot em si é bem funcional, mas nada muito incrível. O melhor que ele faz é dar um ótimo espaço pros personagens, que dentro deles temos algumas ótimas protagonistas, dois vilões realmente legais (os outros são bem esquecíveis) e uns personagens secundários especialmente carismáticos. Isso tudo além de, claro, mascotes espetaculares que fazem parte de muitos dos melhores momentos do anime.

Essa temporada é tecnicamente ótima. Os designs das personagens são bem legais, o traço em si adiciona muito a estética geral, além do anime ser no topo de tudo, muito bem animado, o que à esse ponto já deve ter dado para perceber que é procedimento padrão na série. Outro detalhe que vale mencionar é como Dokidoki possui um terceiro compositor que nunca apareceu antes na franquia, o Hiroshi Takaki! Graças a ele, a série finalmente voltou a ter uma trilha sonora marcante e isso já é um ótimo ponto a favor da temporada.

Ah! Não posso esquecer de mencionar que Kibou no Dress é um filme bem legal que pode ser assistido tendo visto apenas essa temporada.

Dokidoki! Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Sem sombra de dúvidas, sim. É um pouco difícil vender essa temporada sem ficar me repetindo muito o que também já fazia todas as anteriores boas, mas eu diria que grande parte do apelo dessa é como o anime tenta desviar um pouco do formato episódico, o que pode ser uma oportunidade valiosa pra quem ainda não sabe apreciar esse tipo de anime pegar gosto pela coisa.

HappinessCharge Precure!

Chegamos a outro complicado. De relance temos aqui um ótimo character design onde as personagens são todas muito lindinhas (se você ignorar o fato de todos os mascotes serem feios que dói). Os episódios iniciais são muito cativantes, a animação é ótima e sempre presente com abundância. Ocasionalmente você terá lutas incríveis, dentro do cast principal a Hime é uma personagem extremamente carismática e, no topo de tudo, HappinessCharge ainda tem a trilha sonora do Hiroshi Takaki se mantendo aqui! Mas o que sobra depois de mencionar essas coisas?

Bom… apesar da Hime ser sim muito boa do inicio ao fim, todas as outras protagonistas são de horríveis a esquecíveis e quando você parte para personagens secundários e alguns amigos que são importantes mas não se transformam a situação fica ainda mais feia. O que salva HaCha de ser totalmente medíocre no quesito personagens são os vilões, já que a maioria deles são tão impagáveis que vai ser questão de tempo até você passar a torcer por eles e desejar que vençam as protagonistas.

Outro problema é como o anime tenta construir romance — ênfase no “tenta”. Eu não tenho problema algum em uma temporada ser mais focada em romance quando eu consigo apreciar coisas como Tokyo Mew Mew, e a própria franquia de Precure já possui ótimos exemplos de como fazer isso bem, mas os roteiristas do HaCha estão muito a frente de seu tempo, meros mortais como nós não poderemos entender seus verdadeiros objetivos.

A parte de romance é tão estranha, mas tão estranha, que eu cheguei a acreditar que o anime iria finalmente admitir que na verdade era um harém onde o verdadeiro protagonista era o Seiji e toda essa parte de mahou shoujo era uma fachada. Às vezes a cornice dos personagens era tão grande que mesmo com a trilha sonora original sendo incrível, eu sentia vontade de substituir ela por músicas tristes do Bruno & Marrone para o clima fazer mais sentido, foram tempos difíceis…

No entanto, o romance não é a única coisa estúpida de HappinessCharge Precure: basicamente sempre que eles tentam desenvolver qualquer coisa é um horror. Assistir o plot do anime se desenrolar é tipo ler uma fanfic, mas sem a parte boa de ler uma fanfic. Eu normalmente não me incomodo com essas coisas em um anime episódico onde os personagens são a parte mais importante, mas como essa temporada falha em praticamente todo o resto que é importante, eu não tenho escolha a não ser me agarrar em alguma coisa dela até recuperar minha sanidade, então me dê um desconto dessa vez.

HappinessCharge Precure! é uma boa porta de entrada para a série?

Não. Eu não desejo uma entrada tão traumática para ninguém. Mesmo a melhor parte dessa temporada não é o suficiente pra compensar toda a falta de bom senso que constantemente rola nela.

Go! Princess Precure

Não se preocupe, a qualidade da franquia não morreu no HappinessCharge, apesar de eu ter sentimentos um pouco mistos com esse daqui. Go! Princess Precure é uma temporada com uma ótima primeira metade, contando com algumas protagonistas bem legais, ótimas músicas, bons episódios de comédia idiota aqui e ali e vilões com uma ótima aura que, mesmo a maioria não sendo exatamente bem feitos, são no pior dos casos bem estilosos.

O anime começa criando altíssimas expectativas, com personagens bem legais possuindo designs igualmente bons, mantendo uma trilha sonora de qualidade e tendo o melhor confronto de primeiro episódio da franquia inteira, mas é daí pra frente que os problemas começam a se mostrar.

Não demora muito até você sentir uma estranheza ao perceber que a temporada está com ótimos animadores aparecendo frequentemente, mas que ainda assim, nada parece tão hype quanto deveria em comparação ao primeiro episódio. O motivo por trás disso é que GoPri tem uma direção estranhamente fraca. Mesmo animadores de qualidade que sempre fazem um bom trabalho em Precure como Nishiki Itaoka e Kazuhiro Ota têm cenas tão estranhas que chega a ser difícil entender exatamente o que tá acontecendo sem pensar um pouco mais ou voltar nas cenas.

Dois caras que conseguiam ter composições de cena ótimas mesmo com a direção num geral sendo ruinzinha eram o Koudai Watanabe e o Shingo Fujii, o que é bem triste considerando que o destino do Fujii foi deixar a staff de Precure fazendo apenas uma temporada por causa das reclamações envolvendo a forma como ele desenhava as coxas das personagens durante suas cenas.

A direção meia boca não afeta apenas as lutas aleatórias do anime, é depressivo o quão sem inspiração vários enquadramentos são, acaba sendo bem raramente que brota algo que te faça pensar “isso foi bem legal!” e ironicamente, a maioria das vezes que acontece são nos episódios mais bobinhos e fillerzões. Quando esse aspecto começa a se juntar com os problemas de roteiro da segunda metade, pode ser especialmente complicado de assistir.

Isso tudo sendo levado em consideração, grande parte do que me irrita em Go! Princess são comparativos com o resto da série, muito deve dar pra relevar se esse for seu primeiro Precure ou se no geral você não for tão autista com as partes técnicas da obra.

Go! Princess Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Apesar de tudo, sim. Por mais que eu pessoalmente tenha vários problemas com essa daqui, é um fato que eu me diverti bastante assistindo. Se você estiver especialmente interessado na temática ou possui um amigo que tem um gosto mais parecido com o seu que te recomenda começar a franquia por aqui, vai na fé!

Mahoutsukai Precure!

Imagine viver em um mundo onde a Trigger demorou tanto para fazer um anime pra TV de Little Witch Academia que a Toei precisou dar o primeiro passo para nos saciar, isso mesmo… finalmente chegamos em 2016 com Mahoutsukai Precure! 

Essa é uma temporada bem especial pra mim, já que depois de sofrer por noventa e nove episódios eu finalmente pude ficar animado com a franquia novamente. Indo da decisão de começar com apenas duas protagonistas como nos velhos tempos até a abertura extremamente preciosa que aquece o coração, tudo parecia positivo… e nesse caso as coisas continuaram assim até o fim!

A esse ponto já estava virando procedimento padrão pelo menos uma das protagonistas serem chatinhas enquanto eles teimavam de manter os números absurdos de personagens, mas com a redução no cast, nós finalmente fomos permitidos amar todo mundo mais uma vez sem problemas. A Yui Horie pegando papel principal também me deu esperanças de que um dia teremos Hiroshi Kamiya fazendo mascote fofo com voz tosca (um homem pode sonhar).

Dentre todos os Precure até o momento, Mahoutsukai e seu mundo mágico possuem a melhor construção de mundo e a forma que o anime escolhe passar diversas partes por lá na escola de magia, faz com que essa temporada seja uma forma única de ar fresco na franquia. Além de finalmente trazer de volta uma atenção a detalhes legal que meio que se perdeu após os Futari was.

Caso ainda não esteja claro que essa também é uma escolha sólida, vamos dar uma pequena geral nas outras características da temporada. As mascotes são muito preciosas, Mofurun é fácil minha mascote preferida da série, o traço do anime junto com os backgrounds são incríveis, isso fica ainda mais aparente quando estamos encarando as coisas do mundo mágico. Os vilões da primeira metade em sua maioria são incríveis. As lutas boas não são tão presentes, mas Mahoutsukai Precure é muito bom em criar momentos muito hype quando precisa.

Bônus: Depois do filme do Heartcatch, Kiseki no Henshin é meu filme solo favorito de Precure, que você pode assistir tendo visto apenas essa temporada.

Mahoutsukai Precure! é uma boa porta de entrada para a série?

Sim! Se qualquer coisa dita te chamou atenção, ou se você gosta desse tipo de anime mais mágico com direito às personagens aprendendo novas magias e explorando aos poucos um mundo original de forma bem descontraída, esse pode ser um ótimo começo!

Kira Kira Precure A La Mode

Com ótimos personagens iniciais de extremo carisma, um encerramento estranhamente viciante e esbanjando os melhores designs da franquia inteira como se fossem a coisa mais normal do mundo, Kira Kira Precure A La Mode imediatamente prendeu a minha atenção, principalmente considerando que o traço do anime se mantem bem consistente, deixando especialmente fácil de apreciar o visual.

Passando mais rapidinho pelos positivos, além do visual incrível e protagonistas muito boas, o anime de vez em quando tenta usar uma direção um pouco mais diferenciada que acaba me lembrando um pouco aqueles episódios estranhões do Yes! e Smile, o que é sempre bem legal. A primeira metade do anime é especialmente gostosinha de assistir e o filme Omoide no Mille-Feuille é bem maneiro — considerando que as garotas do Mahoutsukai fazem uma pequena aparição lá, claro.

Por outro lado, após o episódio trinta, a direção que o plot vai indo é bem desencorajadora e pode ser especialmente chato de assistir, mesmo estando tão apegado aos personagens como eu estava. Os vilões não são especialmente bons, o que adiciona um pouco na frustração, e a parte de ação é a pior em que a franquia esteve, onde frequentemente as lutas parecem estar no episódio por cota e não por ser necessária, gerando momentos estúpidos como um vilão brotar nos últimos minutos do episódio e literalmente soltar algo como “Eu vim destruir o seu sonho”, começando assim a luta do episódio que dura um minuto, não acrescenta em nada e muito menos é legal de assistir.

Infelizmente o compositor para essa temporada foi mudado mais uma vez, e não foi para muito melhor, já que quem está no cargo da trilha sonora dessa vez é o Yuuki Hayashi (que durou até o Star Twinkle). As trilhas são todas esquecíveis ou lembráveis por falhar após tentar muito forte ser hype, mas acabar em um resultado patético em comparação com qualquer coisa que o mestre Naoki Sato ou o Hiroshi Takaki comporiam… mas né, sei que existe uma parcela considerável de pessoas que idolatram o trabalho do cara em animes como Boku no Hero ou Haikyuu, então se você for uma delas, pode considerar essa parte como um pro, já que a trilha sonora de Kira Kira A La Mode segue bem a mesma pegada. 

Kira Kira Precure A La Mode é uma boa porta de entrada para a série?

Apesar de tudo, Sim! Se você é um amante de character designs incríveis, não se importa muito com o final ou lutas mais ruinzinhas durante o anime, com certeza vai conseguir tirar um bom proveito das partes boas de Kira Kira. Caso o contrário, não é como se faltassem opções que fossem te forçar a ver uma temporada que não te deixa tão confiante assim.

Hugtto! Precure

“Outro mahou shoujo recente com direção de Junichi Satou? Por favor, me dê!” Isso foi o que eu pensei antes de começar a ver Precure e um de meus amigos mencionou Hugtto, mas após subir lentamente até a temporada pela ordem de lançamento a ilusão foi quebrada bem rápido… o cara não é exatamente bom em fazer anime com lutinha.

Indo por partes e iniciando pelo mais importante, os personagens são um sofrimento. Tudo começa com a decisão questionável de chamar vários voice actors inexperientes pro projeto, o que na teoria pode ser legal e eu totalmente apoiaria em personagens menores ou em animes que acabaram de nascer, mas aqui eles estão pra todo lado (incluindo em duas protagonistas) e a franquia já estava em seus catorze anos de existência.

Por causa das vozes horríveis, vários personagens que eu até me vejo gostando eu não consigo suportar quando eles decidem abrir a boca, principalmente por um gênio incompreendido da Toei decidir que seria uma boa ideia as personagens soltarem uns gritinhos ridículos no meio das transformações, que com as vozes que as personagens têm, me fazem querer cometer o suicídio do Didi cem por cento das vezes.

No fim, os poucos personagens que eu acabei gostando tipo a Homare, Ruru e o Harry sempre tinham uma coisa em comum: as vozes deles vinham de pessoas mais experientes. Eu sei que pode parecer um motivo bem aleatório pra reclamar de um anime, mas quando você está vendo conteúdo equivalente a mais de dez anos tendo nomes incríveis como Yukana, Kotono Mitsuishi, Wataru Takagi, Miyuki Sawashiro e Saori Hayami frequentemente, seu sistema começa a rejeitar essas coisas vindas do nada.

Em questão das lutas de episódio, elas existem. A temporada em si tem uma violência um pouco mais acentuada depois do Kira Kira ficar tanto tempo em uma zona segura, mas isso tudo é jogado fora por um roteiro meia boca e tão pacifista que acaba conflitando com os animadores tentando vender cenas mais violentinhas aqui e ali. Em quesito animação, Hugtto tem seus momentos, mas novamente, as cenas que de fato saem legais vão ser cem por cento das vezes interrompidas por um clímax broxante ou não vão ser tudo isso pra começo de conversa.

Como um compensatório pelas cenas bem animadas em certos momentos, o traço de Hugtto! Precure voltou a ser bem inconsistente, porém o nível e quantidade de cenas bem feitas não chegam a ser um Heartcatch, HaCha ou sequer um Yes! GoGo da vida, o que me faz pensar se tudo isso valeu a pena, principalmente quando os animadores estão tão mortos que cenas estáticas com foco em poucos personagens conseguem ter desenhos bem ruins.

E no quesito de designs? Isso é algo que a franquia costuma fazer muito bem, não é? Bom, acabando de sair do Kira Kira A La Mode, ver os designs dessa temporada me faz perder a fé na humanidade. A transformação da Hana é a única que consegue ser bonitinha, as outras são todas de ok pra horríveis. Se não se incomodarem com essa informação, as Cures que vem depois na temporada possuem transformações tão esquecíveis que eu nunca me lembrava dos designs delas enquanto elas estavam sem a transformação.

Ainda existe salvação, nós ainda não nos aprofundamos no plot e temáticas, certo? Infelizmente o Hugtto não se safa nisso, eu diria até que essa é a parte mais ofensiva de todas. Junichi Satou é um ótimo homem, sua direção nas partes iniciais da série clássica de Sailor Moon e a forma que ele lida com todo Ojamajo Doremi deixam extremamente claro que ele é bom em tirar leite de pedra… só que nesse caso, nem a pedra o Satou tinha.

Um detalhe importante de mencionar quando falamos da temática de Hugtto! Precure é que em 2018 o Japão teve o saldo negativo de 444 mil pessoas na sua taxa de natalidade, o que gerou certa preocupação entre o pessoal mais velho, e como deve dar pra imaginar por eu estar mencionando isso, diretamente afetou o roteiro e a temática do anime.

Não foi a primeira vez, mas é tudo uma grande propaganda para bebês, o roteiro constantemente tenta te vender o quão fofos eles são e o quanto as crianças japonesas precisam ter mais deles quando crescer, o que não é exatamente errado, mas dava pra tentar ser um pouco mais sutil com essas coisas, né? Claro que cuidar de uma criança e principalmente bancar elas não é uma tarefa fácil e provavelmente é um luxo fora de alcance para quem precisa se preocupar em pagar seus empréstimos estudantis (chances são que ao terminar de pagar e finalmente se estabilizar, a idade passe a se tornar um problema junto às novas responsabilidades).

A grande solução genial do anime é obviamente colocar os personagens para se matar de trabalhar desde cedo de bom grado enquanto tenta o mais forte possível te convencer que isso não é tão ruim quanto parece — as garotas fazem malabarismo com os estudos, sonhos, trabalhos que elas não deveriam ser permitidas a estarem em sua idade atual e no topo de tudo derrotar vilões diariamente com discursos de paz. Eles não desistem: episódios de cuidados a bebês, episódios dedicados a parto (sim, episódios, são múltiplos deles), episódios das personagens desperdiçando toda a juventude trabalhando a exaustão, episódios sobre o crescimento dos bebês para dar um pouquinho de satisfação em meio à desgraça… o ciclo apenas se repete a partir daqui.

É perfeitamente entendível que algumas pessoas não se importem com isso, mas entendendo um pouco do contexto em que o anime saiu, é bem difícil não se incomodar com detalhes como esse. Acaba que um cara como o Junichi Sato estar na equipe só me faz desejar que eu estivesse gastando o tempo que eu gastei com Hugtto em Doremi ou outro anime mais sólido num geral.

Se você ainda insiste que essa é uma boa entrada para série, vamos para a última bala da temporada, o fanservice. Esse Precure foi lançado como uma celebração do décimo quinto aniversário da franquia, o que obviamente significa que eles podem ser extremamente desleixados e dar um copia e cola em tudo que eles já fizeram antes que estará ok… pelo menos é o que os staffers acharam na época.

Os vilões são uma empresa maligna que usam trabalhadores em condições horríveis pra enfrentar e roubar o amanhã de garotas com um futuro brilhante… soa familiar? Pois é! Isso é só o Yes, só que com gravidez e piorado. É melhor você ir se acostumando com isso, já que a coisa toda por muito tempo fica brincando de ser o Yes e GoGo, até eles cansarem e aos poucos irem copiando outras temporadas aqui e ali da forma mais óbvia possível (o que eu mais odiava era eles reusando bordões icônicos em cenas sem contexto nenhum).

Pra espantar de vez as chances de alguém novo se dar bem aqui, existem dois episódios duplos, um onde as garotas do Futari wa aparecem, e outro onde todas as protagonistas existentes das temporadas passadas aparecem para fazer um mini “All Stars” com uma produção que com toda certeza seria bem inferior a de um filme. A pior parte de tudo isso é como esse fanservice aleatório foi o mais aproveitável da temporada pra mim. Isso diz muita coisa, não diz?

Hugtto! Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Não. Assim como eu já vi acontecer, é totalmente possível que alguém tenha esse como seu primeiro Precure e ame a franquia tanto quanto eu, talvez até mais, porém com tantas outras opções, acho que é uma aposta arriscada demais. Eu me sentiria muito mais tranquilo com você começando por outra temporada e quando finalmente tiver certeza que está investido na série, tentar tomar suas próprias conclusões — afinal de contas, o seu gosto é só seu e no fim do dia o quão paranoico eu consigo ser na hora de assistir um anime pra crianças não importa se você está se divertindo com o que assiste.

Star Twinkle Precure

Enquanto a maioria das temporadas corre pra um lado com mais animação, mesmo a troco de um traço muito inconsistente, Star Twinkle Precure vai pelo lado oposto. Desta vez o anime conta com cenas bem mais simplificadas (tirando claro, os momentos-chave de transformações, ataques e confrontos importantes) para que a todo o momento mantenha um visual lindo, com ótimo traço, ótimos enquadramentos e ótimos backgrounds — não seria um exagero dizer que Star Twinkle é quase que um gerador de wallpapers.

As lutas de episódios sofrem o mesmo problema do Kira Kira. Muitas vezes as situações parecem forçadas para que siga o padrão de inimigo da semana e não realmente acrescenta em nada, com os confrontos em si sendo bem ruinzinhos na maioria das vezes. Para a nossa felicidade, o anime é incrível na hora de ser um slice of life muito gostosinho de assistir, e mesmo com as lutinhas normais sendo desencorajadoras, eles dão um jeito de deixa-las bem animadas e coreografadas próximo do fim, evitando assim um clímax broxante como o Kira Kira A La Mode ou Hugtto! Precure.

Eu preferiria que a Madoka e Elena não fossem cópias tão descaradas de outras personagens do mesmo arquétipo que a franquia já tinha, mas nada é perfeito. Tirando as duas (que são até gostáveis se você ignorar o movimento de extrema preguiça), este Precure conta com um ótimo cast, todas as outras protagonistas são ótimas, os vilões são incríveis e os alienígenas que aparecem de vez em quando são bem divertidos. Isso mesmo, alienígenas! A temática espacial permite o anime criar vários episódios de viagens até planetas próprios, que conseguem ser sempre bem divertidos e com uma estética ainda mais linda do que o normal. Infelizmente não são muitos deles que aparecem, mas cada um é uma experiência muito boa e vão te marcar de uma maneira positiva.

Star Twinkle Precure é uma boa porta de entrada para a série?

Sim! Caso curta a temática espacial, tenha gostado do design de alguma personagem em específico ou só queira um bom slice of life com eventuais cenas de mahou shoujo, essa é uma ótima escolha. Coisas como a Madoka e a Elena sendo cópias de outras personagens, não realmente vai importar se essa for sua primeira vez consumindo algo da franquia. O anime se mantêm divertido do inicio ao fim, se tornando uma escolha bem sólida para um Precure inicial.

Começando pelo novo

Agora que já falamos da ordem de lançamento e de todas as temporadas existentes, só falta mencionar o último método de começar Precure: pegar para assistir o que for mais recente. O perigo de uma temporada que ninguém realmente sabe no que vai dar é bem notável, já que você sempre pode ter o azar de escolher a próxima ovelha negra da família, mas existe sim o lado positivo de ir por essa rota.

Vamos começar pelo óbvio, você não vai precisar enfrentar os aproximados cinquenta episódios de cara! Dependendo do quão cedo você chegar, talvez sejam vinte, quinze, oito ou até três episódios disponíveis, o que é infinitamente mais rápido de deixar em dia e vai facilitar bastante acompanhar pra quem já tem o costume de ver anime de temporada. E ei! Mesmo se o novo Precure for horrível, pelo menos você depositou o tempo dos novos Isekais genéricos em outra coisa!

Caso você não queira ir totalmente cego para a mais nova temporada, sempre existe a possibilidade de pesquisar! Procure pelo PV, abertura, encerramento, veja quem são os staffers ou se algum dublador que você gosta está no time, passe pelo Sakugabooru pra saber como está o nível da produção… tudo conta! Daqui pra frente, infinitos detalhezinhos podem acabar te comprando, boa sorte!

Deixe um comentário